PROEX Sustentabilidade: Recuperação da área verde no entorno do Horto Didático de Plantas Medicinais do Hospital Universitário (HU) utilizando sistemas agroflorestais

26/03/2019 15:17

A PROEX, Pró-reitoria de Extensão, lançou, em agosto de 2018, o Edital nº 3/2018/PROEX – Extensão e Sustentabilidade na UFSC. O edital foi pensado a partir da meta de “Realizar Editais de Pesquisa e Extensão que privilegiem projetos que tenham como temática a sustentabilidade dentro da UFSC”, do Plano de Logística Sustentável 2017, com o objetivo de incentivar o desenvolvimento de projetos de extensão que promovam políticas de sustentabilidade na UFSC.

Para participar, as propostas deveriam apresentar ações a serem desenvolvidas na universidade com objetivos voltados para questões como: sistemas de descentralização de esgotamento sanitário, economia de água, eficiência energética, reutilização e reciclagem de resíduos sólidos e orgânicos, preservação de fauna e flora, educação e sensibilização ambiental. Também deveriam ser contemplados aspectos como interdisciplinaridade e união entre ensino, pesquisa e extensão.

O edital previa a concessão de bolsas de extensão para alunos de graduação envolvidos nos projetos e recurso financeiro para ser utilizado em material de divulgação. Em dezembro, foram divulgados os selecionados para as bolsas de Extensão.

A partir de hoje iremos fazer uma série de matérias com o objetivo de apresentar cada um dos projetos que foram selecionados.

Recuperação da área verde no entorno do Horto Didático de Plantas Medicinais do Hospital Universitário (HU) utilizando sistemas agroflorestais

PASSADO

O projeto Horto Didático de Plantas Medicinais do HU/CCS/UFSC, desenvolvido ao lado do Hospital Universitário (Imagem 1), foi iniciado no ano de 1999, pelo médico e professor César Paulo Simionato. Desde então, diversas espécies de plantas de uso medicinal, tanto nativas da flora local quanto introduzidas, foram plantadas neste espaço. A atuação do Horto vai além da informação, já que o projeto também auxilia na implantação de canteiros de plantas medicinais utilizadas pela comunidade, sugeridas pela lista de plantas recomendadas pelo SUS.

O lugar foi mantido desde o início sem nenhum recurso financeiro, apenas por mutirões organizados com a comunidade e voluntariado, tanto de alunos quanto da comunidade. É um espaço para cursos de capacitação, que valoriza a troca entre os saberes e práticas populares e acadêmicas – aproximando a comunidade, os profissionais da saúde e os estudantes das questões relacionadas à saúde individual, coletiva e ambiental.

Com o tempo, o espaço ao entorno do Horto começou a ser usado como estacionamento de veículos; sua área verde, composta por vegetação de Mata Atlântica, foi degradada, com o aumento de acessos de veículos e pessoas aos diferentes setores do hospital universitário. Há também uma rua por onde a CASAN realiza a manutenção de redes de esgotamento sanitário.

Parte da área verde remanescente está localizada próxima ao curso de água denominado Córrego do Rio do Meio, classificado pelo Código Florestal como Área de Preservação Permanente (APP). Esse rio teve suas margens e leito canalizados já na implantação do campus, e hoje recebe parte do manejo pluvial da UFSC e da comunidade no entorno.

 

area projeto horto

Imagem 1 – Localização e área do Projeto de Recuperação do Horto do HU

PRESENTE

 

Esse histórico levou à descaracterização da mata ciliar do local: hoje, parte é tomada por espécies exóticas e invasoras e outra parte foi desmatada para os acessos de manutenção da rede hidráulica. Em seu estado atual, é necessário que seja planejado um processo de recuperação, que é o objetivo desse projeto.

O rio ainda é nicho para diversos animais, como o Jacaré de Papo-Amarelo. É essencial um aumento da densidade arbórea (ou seja, do número de árvores), tendo em vista a pressão que a área sofre por se encontrar em área urbana (Imagem 2). Com grande exposição à poluição, a mata recebe de forma expressiva os impactos negativos da presença e expansão da cidade – resíduos sólidos, poluição sonora e do ar, e resíduos de construção civil enterrados no solo (Imagem 3 e 4). Para realizar recuperação da área – vegetação do entorno, solo, fauna e água – o modelo sugerido foi de Sistemas Agroflorestais, que tem o objetivo de estabelecer espécies nativas medicinais e da mata atlântica.

A ideia do projeto de recuperação do Horto surgiu em 2018, pela demanda de recuperação do local, observada pelo Engenheiro Sanitarista e Ambiental e servidor da Gestão Ambiental, Djesser Zechner Sergio. Assim, a CGA procurou a Prof. Dra. Christiane Meyre, coordenadora do Horto Medicinal e do projeto de recuperação, que já visava uma melhoria do ambiente. Dessa forma, a parceria foi firmada.

A CGA também é representada no projeto pelo biólogo e servidor da Coordenadoria, Allisson Castro. “Apesar da quantidade de coisas que eu já tenho, resolvi topar participar, já que é mais uma área verde da UFSC que precisa ser recuperada. E é muito importante ter esse ambiente: a UFSC tem pouquíssima área verde, só três áreas um pouco mais florestadas, que ajudam um pouco com o nosso clima. Mas todas precisam ser recuperadas”, afirmou. Além dele, o projeto conta com outros três colaboradores – Profa. Dra. Maique W. Biavatti (CIF/CCS); Gustavo Sagás Magalhães (Administrador de edifícios; STAE – CCS/UFSC); César Simionatto (Médico – HU) –, um bolsista voluntário, Michael Anderson da Luz Lopes – (Graduando de Farmácia), e dois bolsistas.

 

 

arvores horto

Imagem 2 – Árvores do entorno do Horto Medicinal.

 

lixo horto

Imagem 3 – Resíduos despejados no entorno do Horto Medicinal

 

lixo horto 2

Imagem 4 – Resíduo sólido descartado de forma inadequada no estacionamento.

 

FUTURO

 

Para o córrego do Rio do Meio – onde é despejada uma parcela da canalização de drenagem da universidade (ou seja, a água da chuva captada), tendo uma parte dessa canalização que passa pelo bairro da Trindade –, já está sendo idealizado um plano para sua recuperação. O Projeto de Recuperação da qualidade da água dos córregos que atravessam o campus da UFSC – Trindade está na fase de reuniões para a discussão do projeto, que ainda não tem previsão de entrega.

Por isso, o Projeto de Recuperação Horto Didático com Sistemas Agroflorestais não terá o foco no córrego – sua atuação nessa área ocorrerá através da recuperação da mata ciliar. “A gente vai trabalhar no verde e assim tentar recuperar a água. Isso é um conceito chamado ‘Plantando Água’”, explica o servidor. A partir do plantio de espécies da mata ciliar, que são nativas e podem absorver essa água contaminada, uma espécie de tratamento da água será realizado. As plantas farão a evapotranspiração da água, que vai virar nuvem e assim seguir o ciclo ecológico. Dessa forma, a água vai passar por uma certa purificação, e a mata ciliar também vai ajudar a reter os resíduos e detritos que passarem por ali. De acordo com o biólogo, essa melhoria da qualidade da água pode ocorrer de maneira não tão expressiva a olho nu, mas fará a diferença para a fauna e para o microambiente da região.

O processo da recuperação do Horto é dividido em duas etapas: a primeira, do projeto, quando ocorre a recuperação e a preparação do solo, e plantação das mudas, para aumentar a quantidade de vegetação – essa etapa será finalizada até o final deste ano. A segunda etapa é a de desenvolvimento e crescimento das plantas. Como a área vai ser recuperada através do Sistema Agroflorestal, que imita e acelera os estados ecológicos naturais: o que normalmente deveria se desenvolver em 30 anos naturalmente, é plantado hoje. Dessa forma, a segunda etapa pode durar dez, quinze anos, num prazo bom – depende do desenvolvimento das plantas. “Tudo isso vai ser acompanhado através de cuidados, e isso é a parte de manutenção. Mas o projeto vai se preocupar mais com essa primeira etapa, que é justamente estabelecer um ambiente de recuperação, que vai ser feito esse ano”, relata Allisson.

A princípio, ao final de 2019, o Horto do HU vai continuar com a manutenção do espaço, ainda com a parceria da gestão ambiental. Se esse processo demandar um estagiário de extensão, a solicitação será feita. Se o sistema conseguir se desenvolver sozinho, sem necessidade de intervenção, os participantes do projeto vão apenas observar, remanejando o que for preciso.